Educação?

 




Uma breve descrição da evolução da educação na formação humana e os impactos sociais atrelados a relação professor-aluno

Matheus Ágabo Ferreira, 16 de Setembro de 2021

 

A educação pode ser entendida como os processos metodológicos de aprendizagem definidos pelas instituições de ensino de um pais, estas procuram esquadrinhar as diversas habilidades necessárias para a atuação dos estudantes como cidadãos na sociedade. Entretanto, esta é uma visão utilitarista do que é a educação, sendo reduzida a uma ferramenta para a estruturação da pós-modernidade. Desde o início da consolidação das sociedades humanas, educar, era ser uma mente aberta ao conhecimento, sendo crítica e curiosa. No ocidente, temos os primeiros filósofos gregos como percussores de uma didática que perduraria por séculos, como por exemplo a Escola dos Pitagóricos e a Academia de Platão. Modelos esses que seriam a base para toda uma forma de moldar o mundo. Reinos e povos eram influenciados por esse antigo “modus operandi”.

O entendimento do funcionamento do mundo, do homem e do próprio divino estavam relacionados, e as gerações seguintes seriam influenciadas por estas ideias. A igreja como instituição, durante o período da idade média e até o fim da idade moderna, foi uma peça importante no impacto da educação. Sendo ela responsável por trazer os “saberes necessários aos homens”, definindo e consolidando o papel do ser humano em sociedade. A relação de educação e sociedade, está intrinsecamente ligada. A educação é formulada de acordo com a sociedade vigente e ao mesmo tempo a educação influencia essa mesma sociedade, criando assim um ciclo de interdependência.

O impacto que as traumáticas mudanças no mundo trouxeram para educação podem ser vista pela destoante modificação no paradigma educacional. Antes o aprendizado era um privilégio dado a poucos, em um mundo que a ascensão social era praticamente impossível. Entretanto, com a modificação das estruturas sociais e políticas, a própria visão de como o homem deveria ser mudou. O ser humano passou ser uma força motriz das revoluções, ressignificando a si mesmo e seu papel no mundo. Na perspectiva cartesiana, nos tornamos “res cogitans” da nossa própria realidade. Em um mundo onde anteriormente nosso papel principal era sobreviver, agora, a sobrevivência se tornou mais ampla e complexa, em uma rede de conexões que perpassam pelo próprio entendimento do que é o ser humano.

Com advento das mudanças na estrutura de ordem mundial, novas necessidades humanas começaram a se manifestar, questionando os antigos saberes e dogmas. Desenvolvendo uma sociedade com características abstratas e profundas. Nesse processo o impacto na educação se tornou imprescindível. Tornou-se necessário uma nova forma de educar, a escola. Criada pela necessidade de uma nova visão da sociedade, de um novo ser humano. Consolidando assim as bases para uma nova reformulação da sociedade, seus valores e princípios.

Anteriormente, tínhamos um mentor e um aprendiz. Em sua maioria tínhamos apenas uma continuidade dos pensamentos anteriores ou uma total mudança de paradigmas. Posteriormente isso se formulou nas instituições religiosas, que como mencionei, eram responsáveis pelos saberes. Entretanto, seu principal papel era seguir seu dogma, formar o homem como servo de deus. Dessa forma seus ensinamentos tinham sempre uma pauta moral religiosa. Agora, com a formulação da escola, como responsável pelo aprendizado, temos uma  perspectiva diferente. Sendo a educação tendo um papel mais cívico e político. O que infelizmente rendeu serias consequências ao mundo. Vale citar Auschwitz, como exemplo de um impacto negativo nessa nova formulação da educação. Uma distorção macabra do real papel da escola, a tornando uma ferramenta de poder e manipulação, da extrapolação de ideologias.

Durante vários séculos o modelo escolar passou por diversas alterações, desde focos no militarismo ao utilitarismo e até ideológicas. Hoje temos a escola como um dos pilares da educação, mas claramente a educação se tornou muito mais ampla e profunda hoje em dia. Atingindo diversas dimensões do homem, desde a formação familiar, religiosa, social etc. A escola, entretanto, continua a ser como um dos principais pilares da educação, como detentora do conhecimento científico e intelectual.

Hoje a educação é vista primariamente como escolar, delegando as instituições o dever de preparar os indivíduos para a vida em sociedade. Embarcando a escola como responsável pelo conhecimento técnico-científico, e as formações do “sujeito”, enquanto produto do meio cultural que vive. Infelizmente, isso enclausurou a escola a uma mera reprodução do “status quo”, como uma ferramenta emancipatória das vontades da estrutura política e cultural que é a sociedade. Negligenciando muitas vezes a profundidade transcendental da alma humana.

A educação se tornou, assim, uma mera reprodução dos meios de produção, da ligeira tomada de capital ideológico, onde os estudantes são apenas números em uma grande máquina ilusória. As demasiadas dicotomias do mundo, refletem em estruturas educacionais diversas. Em um próprio pais, as diferenças culturais e sociais estão enraizadas no dilema fundamental da escola. Estaria ela desempenhando realmente seu papel de formadora, ou apenas sendo uma ferramenta que perpétua a ordem social?

------------------------------------------------------------------------------------------

Vamos a um exemplo do que seria uma sala de aula hoje.

------------------------------------------------------------------------------------------

Professor: Hoje iremos aprender sobre gravidade.

Aluno: Ouvi dizer que a gravidade é uma mentira.

Professor: Quem disse isso a você?

Aluno: Vi na internet. Eles mostram que na verdade a terra é plana.

Professor: Isso aí é só teoria da conspiração, não tem ciência nisso.

Aluno: Mas eles demonstraram com experimentos que não existe curvatura da Terra.

Professor: Que experimentos?

Aluno: Sim, usando uma régua no horizonte.

Professor: Mas esse experimento está tudo errado. Não tem como ele fazer observação, vai induzir ele ao erro. Além da falha de coerência da teoria.

Aluno: Ah professor, você que está atrasado e cego. Não vê que o sistema quer te

manipular? Querem que você ache que o mundo é como eles desejam que seja.

Professor: Aí é que você se engana. Tudo que falo e ensino a vocês, é derivado de muito estudo, com demonstrações elaboradas e experiências refinadas. São anos de pesquisas das mais diversas instituições e pessoas.

Aluno: O sistema funciona assim professor. Por exemplo: Você acha mesmo que o homem foi a Lua?

Professor: Aaah... Foi. Temos fotos e registros.

Aluno: Mentira professor! É tudo manipulação.

Outro Aluno: Meu pai também me falou sobre isso. É todo um plano da Nasa para controlar as informações e oprimir os países menos desenvolvidos.

Aluno: Exatamente! Todos os Youtubers que vi falaram isso também!

Professor: Meninos, se acalmem. Não existe isso de manipulação. A tecnologia hoje é prova dessa ciência que estudamos.

Aluno: Ah professor! Você vai mesmo continuar cego a tudo que está acontecendo no mundo? Não vê o tanto que os governos nos tentam calar?

Outra aluna: Sim, semana passada mesmo vi uma notícia no WhatsApp falando que eles estão alterando a composição do milho para espalhar doenças como o covid-19.

Outro aluno: É! Eu vi isso também! O governo chinês quer manipular o mercado criando esses vírus!

Professor: Turma! Vamos manter o foco da aula!

Aluno: Mas professor, como você não vê o impacto dessas mentiras? Não podemos nos calar! Está tudo na internet, olha lá!

Professor: Não se pode acreditar em tudo que lê...

Aluno: Então por que você acredita no livro que está usando nas aulas? Ele foi criado com esse intuito de perpetuar essa dominação!

Professor: Claro que não! Ele foi construído com foco na aprendizagem de vocês... Quer saber, não vamos perder tempo com essas bobagens. Voltemos a aula!

*barulho de conversas*

Professor: Silêncio turma! Vamos voltar a falar da gravidade...

Aluna: Professor! Eu tenho uma pergunta...

Professor: Agora não, precisamos focar no conteúdo do currículo.

Outros alunos: Ah professor!

Professor: Então, gravidade. Seu estudo começou com um homem chamado Newton. E ele definiu gravidade sendo-...

*Sinal de fim de aula toca*

*Alunos se levantam para ir embora*

Alunos: Tchau professor, até a próxima aula.

Professor: Leiam seus livros e pesquisem sobre gravidade para a próxima aula.

*Alguns alunos conversando entre si depois da aula.*

Aluno 1: Na internet falam sobre essa gravidade, mas só tem um monte de fórmulas e números.

Aluno 2: Foi o que eu disse! Eles usam isso para nós manipular, para dizer com palavras confusas as mentiras deles, mas não importa, nós sabemos a verdade.

Aluno 1: É! Sim! Vamos ver o vídeo novo desse Tiktoker, ele fala da gravidade.

Aluno 2: Sim, ele é ótimo! Ele fala em trinta segundos o que o nosso professor não consegue em uma aula toda.

Aluno 1: Sim..., mas também nosso professor é todo manipulado e ainda quer nos fazer acreditar naquelas mentiras usando um monte de coisas confusas, com números e letras!

------------------------------------------------------------------------------------------

Essa ficção acima, demonstra uma simples situação da forma como muitas aulas de ciências são realizadas nas escolas hoje em dia. Claro que não podemos generalizar. Com certeza terão outras diversas situações. Entretanto, ilustrei essas como forma de crítica a toda a sistemática que nos rodeia e permeia a educação, afetando as relações de professor e aluno. Eu não tenho uma resposta para os questionamentos que fiz, mas acredito que a educação tem papel fundamental nós processos essenciais a formação do homem. Ainda que com suas limitações e falhas, acredito que o professor tem seu papel como um mediador, não focado em transmitir informações, mas em usar a experiência e o conhecimento de forma a auxiliar os estudantes a chegarem no seu próprio conhecimento. Podando irregularidades e delimitando as possibilidades coerentes de uma linha de raciocínio. Infelizmente, vivemos em uma sociedade de informações líquidas e volúveis. E isso está afetando a forma como os próprios alunos encaram o estudo e os professores. Talvez, estejamos caminhando para uma nova forma de educação. Se ela vai ser libertadora e ideologicamente neutra? Eu não sei. Todavia, acredito que a mudança continua, resultado das inúmeras alterações da sociedade. Nosso mundo continua a mudar, o homem, continua a evoluir, logo, a educação e as relações de professor e aluno, continuarão se desenvolvendo e alterando, influenciando tudo e todos.

------------------------------------------------------------------------------------------


-- Hakai --


Link para o arquivo em PDF:

Texto Original

Postagens mais visitadas